*Por Celso Luiz Tracco
A sociedade
brasileira vem enfrentando enormes dificuldades nos últimos anos. Corrupção
endêmica, violência urbana, altas taxas de desemprego, uma grave crise ética,
falta de confiança em sua classe política são sinais claros da falta de
esperança em um futuro promissor. Como resultado imediato, aumenta o número de
jovens e mesmo de famílias constituídas que decidem construir suas vidas no
exterior, refazendo o caminho inverso de seus antepassados, 100 anos atrás.
Mas, será que a
nossa sociedade tem consciência de que esta crise não é de agora? Será que ela
procura refletir as verdadeiras causas de seu infortúnio? Mais ainda, será que
ela, tomando consciência das causas reais, tem condições de combatê-las
transformando esse cenário caótico?
Não tenho a
pretensão de dar uma solução definitiva à grave crise vivenciada pela nossa
população, mas gostaria de refletir sobre três pontos que considero
fundamentais e que estão na raiz de nossos problemas sociais. Claro que nossa
crise não é de hoje. Nosso flagrante atraso social vem de muito tempo, mesmo
comparado a países cujos recursos são infinitamente menores que os nossos.
Minha proposta, aqui, é debater sobre temas como a baixa escolaridade, a enorme
desigualdade social e o paquidérmico tamanho do Estado brasileiro.
A baixa
escolaridade vem desde os tempos de nossa colonização europeia. Colonização
essa que foi exploradora, predatória e oportunista. Nossos primeiros
colonizadores não vieram para se estabelecer na terra, criando uma nova vida,
construindo uma nova sociedade. Vieram explorar as riquezas naturais, utilizar
mão de obra escrava, juntar o máximo de dinheiro possível e voltar para a
metrópole enriquecidos. Sob esta visão, a educação nunca atingiu um papel relevante,
afinal os nobres exploradores preocupados com a educação de seus filhos,
envia-os para estudos na Europa. E para quê escravos precisavam ler e escrever?
A independência
política não modificou substancialmente esse quadro. O Brasil faz censos
regulares desde 1872 e, desde 1890, a cada 10 anos. Em 1890, início do período
republicano, a taxa de analfabetismo no Brasil beirava os 90%.
Nossos primeiros
cursos de estudos superiores só foram instalados no início do século XIX e
nossas primeiras universidades, apenas, em 1934, por decreto do então
presidente Getúlio Vargas. A partir da década de 70, há um enorme declínio na
qualidade da escola pública de ensino básico, com gravíssimas consequências
para a nossa população. Hoje, estima-se que em torno de 30% dos brasileiros
maiores de 15 anos são analfabetos ou analfabetos funcionais (não têm
capacidade de interpretar um texto).
A escola básica
nunca foi uma verdadeira prioridade na política de Estado; ao contrário, é
apenas usada como propaganda eleitoral de governos inescrupulosos. Não há saída
para uma sociedade evoluída sem uma educação básica e massiva de qualidade.
O segundo ponto é
a nossa enorme desigualdade social. De novo, um mal histórico. Evidente que a
economia brasileira cresceu e se diversificou muito desde o final do século
XIX, quando terminou a escravidão. Claro que ela permite uma ascensão social,
exemplificada em milhares de imigrantes que aqui chegaram sem nada, e se
tornaram industriais, banqueiros, empresários de sucesso. Sem dúvida, existem oportunidades,
mas são para a maioria da população?
Na sua essência, a
escorchante distribuição de renda não muda, não importa a época, não importa se
há crise ou se a economia cresce muito ou pouco. A distribuição de renda no
Brasil é imutável, infelizmente. Os 10% mais ricos detêm cerca de 55% da renda
nacional, não importando o tipo de governo de plantão, enquanto os 50% mais
pobres respondem por 10% da renda. As poucas e esparsas políticas sociais,
sempre com objetivos eleitoreiros, são políticas assistencialistas, paliativas
que não buscam uma real e verdadeira transformação da situação existente.
Evidentemente, uma
enorme parcela da população está condenada a viver em condições de miséria e
extrema pobreza, em estado de contínua degradação. Quanto mais essas condições
perdurarem, mais a sociedade brasileira estará condenada a viver no atraso e em
descompasso com os países mais avançados.
Sem uma
distribuição de renda consistente, não teremos uma evolução em relação a
emprego, nem melhores condições de moradia, de transporte, de saúde, de uma
melhor oferta de bens e de serviços. O urgente avanço na distribuição de renda
não é apenas uma questão humanitária, é uma questão econômica, fundamental para
o futuro de todos.
Finalmente, a
terceira parte de nossa reflexão: A gigantesca máquina pública, aqui englobando
os governos federal, estadual e municipal e os poderes executivo, legislativo e
judiciário.
A cultura latina,
de onde somos originários, é famosa por seu grau de apadrinhamento, nepotismo e
burocracia. Esses elementos, sordidamente combinados, fizeram a máquina pública
inchar mais e mais, sem parar, ao longo de décadas. Este inchaço traz como
agravante, a necessidade insaciável de arrecadação de impostos. Além disso, o
governo em geral, proporciona uma má qualidade de serviços, penalizando quem
quer produzir.
As empresas
estatais, ainda que necessárias quando da sua criação, ao longo do tempo,
mostraram-se ineficientes, caras e com focos contínuos de corrupção, um cabide
de empregos disputados por políticos e apaniguados. Não por acaso, o Brasil
possui o pior retorno sobre impostos arrecadados, entre as trinta principais
economias do mundo.
A máquina pública
brasileira já se revelou obsoleta, ineficaz, lenta, burocrática e corrupta. Os
recursos despejados em impostos são gastos com folha de pagamento, por meio de
vultosas aposentadorias e pensões, mordomias nababescas, cargos de confiança, entre
outros, faltando dinheiro para a segurança, a saúde, a educação, a
infraestrutura, o que afeta a vida de milhões de brasileiros.
Nunca se ouve
falar em redução de gastos, mas sempre na necessidade de arrecadação de mais
impostos. O governo brasileiro é uma vergonha.
A sociedade
brasileira precisa enfrentar esses três pontos de frente. Qual a saída? A
sociedade civil deve estar comprometida com as mudanças estruturais. Claro que
estamos acostumados a depender do governo como um salvador da pátria, mas já
tivemos muitos e nenhum resolveu, e ninguém resolverá.
Devemos fazer a
parte que nos cabe, sermos protagonistas de nosso destino, procurar incentivar
e apoiar toda e qualquer medida que favoreça a educação. Não devemos explorar o
próximo e contribuir de todo modo para uma maior e mais equitativa distribuição
de renda.
Lutar, com todas
as forças, para pressionar o governo a não aumentar a carga tributária, na
verdade deve diminuí-la. Assim estaremos, efetivamente, trabalhando para uma
transformação de nossa sociedade. Utopia? Pode ser, mas lembre-se que utopia é
algo muito difícil, mas não impossível, de ser alcançado.
Celso Luiz
Tracco é master coach, palestrante e escritor. Acaba
de lançar o livro "Às margens do Ipiranga", que tem como pano de
fundo a desigualdade social brasileira.
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