Relatório do UNICEF traz uma análise detalhada
sobre as mais diversas formas de violência sofridas por meninas e meninos em
todas as regiões do planeta. América Latina e Caribe têm os mais altos índices
de homicídios.
Nova Iorque/Brasília, 1º de novembro de
2017 – A cada 7 minutos, em algum lugar do
mundo, uma criança ou um adolescente, entre 10 e 19 anos, é morto, seja vítima
de homicídio, ou de alguma forma de conflito armado ou violência coletiva.
Somente em 2015, a violência vitimou mais de 82 mil meninos e meninas nessa
faixa etária – 24,5 mil dessas mortes aconteceram na região da América Latina e
do Caribe.


"Precisamos juntar todos os nossos esforços para interromper a
violência, começando pelo castigo corporal na primeira infância. A proibição do
castigo corporal no Brasil, em 2014, foi um passo importante para isso.
Entretanto, para a efetiva implementação desse tipo de legislação, é necessária
uma mudança cultural e é preciso ter a consciência de que a violência atinge
todas as classes sociais", diz Florence.
O Brasil é citado como um dos 59 países que têm uma legislação que
proíbe o castigo físico. Segundo o relatório, apenas 9% das crianças com menos
de 5 anos em todo o mundo vivem nesses países, o que deixa outros 607 milhões
sem uma proteção legal contra esse tipo de violência.

Mortes violentas – A América Latina e o Caribe concentram cerca da metade de homicídios de
crianças e adolescentes em todo o mundo. Em 2015, dos 51,3 mil homicídios de
meninas e meninos de 10 a 19 anos – não relacionados a conflitos armados –,
24,5 mil aconteceram nessa região. Esses números se mostram desproporcionais
considerando que tal conjunto de países abriga pouco menos de 10% da população
nessa faixa etária.
Com relação às taxas de homicídios na de crianças e adolescentes de 10 a
19 anos, a região da América Latina e do Caribe teve 22,1 homicídios para cada
grupo de 100 mil adolescentes – proporção quatro vezes maior do que a média
global. A região mais segura do mundo para um adolescente é a Europa Ocidental
com 0,4 morte para cada 100 mil.
Segundo os dados apresentados pelo UNICEF, a Venezuela tem a maior
proporção de homicídios nessa faixa etária, com uma taxa de 96,7 mortes para
cada 100 mil, seguida pela Colômbia (70,7), por El Salvador (65,5), por
Honduras (64,9) e pelo Brasil (59).
Para as meninas da mesma faixa etária, Honduras possui a maior taxa
(31,14 para cada 100 mil), seguida de El Salvador (10,9), Guatemala (10,1),
Colômbia (8,4) e Jamaica (7,6).
Conflitos armados – O relatório também
faz uma análise sobre mortes de adolescentes em decorrência de violência
coletiva ou conflitos armados. Em 2015, foram cerca de 31 mil mortes de
crianças e adolescentes de 10 a 19 anos nesse tipo de contexto de violência.
Enquanto 6% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos do mundo vivem no
Oriente Médio e Norte da África, as duas regiões concentram 70% das mortes
nessa faixa etária.
Os países que têm as maiores taxas de mortes de meninos por violência
coletiva são a Síria (327,4 para cada 100 mil pessoas da mesma faixa etária),
Iraque (122,6), Afeganistão (49,4), Sudão do Sul (29) e República
Centro-Africana (18,9).
Para as meninas, Síria (224,1), Iraque (84), Afeganistão (34,2) Sudão do
Sul (15,9) e Somália (10,1) são os países que concentram a maior proporção de
mortes resultantes de conflitos e violência coletiva.
Outras formas de violência – Além de a análise
sobre homicídios e mortes por violência coletiva, o relatório também traz
informações sobre outras formas de violência sofrida por crianças e
adolescentes.
Violência contra crianças pequenas em
suas casas:
- Três quartos das crianças de 2 a 4 anos do mundo – cerca de 300
milhões – sofrem agressão psicológica e/ou punição física tendo como
autores os seus cuidadores.
- Em todo o mundo, uma em cada quatro crianças menores de 5 anos –
177 milhões – vive com uma mãe vítima de violência doméstica.
Violência sexual contra meninas e
meninos:
- Em todo o mundo, cerca de 15 milhões de adolescentes meninas, de 15
a 19 anos, foram vítimas de relações sexuais ou outros atos sexuais
forçados.
Apenas 1% das adolescentes que sofreram violência sexual disseram que
buscaram ajuda profissional.
- Nos 28 países com dados disponíveis, em média 90% disseram que o
perpetrador do primeiro incidente era um conhecido.
Mortes violentas de adolescentes:
- Nos Estados Unidos, os meninos negros de 10 a 19 anos de idade têm
um risco quase 19 vezes maior de ser assassinados do que meninos brancos
da mesma idade.
- A região da América Latina e do Caribe é a única onde as taxas de
homicídios de adolescentes aumentaram nos últimos anos; quase metade dos
homicídios não relacionados a conflitos armados contra adolescentes em
todo o mundo ocorreram nessa região em 2015.
Violência nas escolas:
- A metade da população de crianças em idade escolar – 732 milhões –
vive em países onde o castigo corporal na escola não está totalmente
proibido.
- Três quartos dos tiroteios em escolas documentados que ocorreram
nos últimos 25 anos aconteceram nos Estados Unidos.
Recomendações – O enfrentamento da
violência é uma prioridade do UNICEF no Brasil e no mundo. Para superar a
violência contra as crianças e os adolescentes, o UNICEF insta os governos a
que tomem medidas urgentes, incluindo:
- Estabelecer planos nacionais para reduzir a violência contra as
crianças e os adolescentes, considerando os sistemas de educação,
assistência social, justiça e saúde, bem como comunidades e crianças.
- Limitar o acesso a armas de fogo e outras armas.
- Mudar a cultura dos adultos e alterar os fatores que contribuem
para a violência contra crianças e adolescentes, incluindo desigualdades
econômicas e sociais, normas sociais e culturais que aceitam a violência,
políticas e legislação inadequadas, serviços insuficientes para as vítimas
e investimentos limitados em sistemas efetivos para prevenir e responder à
violência.
- Fortalecer políticas públicas para reduzir comportamentos violentos
– incluindo desenvolver a capacidade de pais e cuidadores para resolver
conflitos familiares sem o uso de violência, e promover a não violência
entre crianças e adolescentes.
- Educar crianças, adolescentes, pais, professores e membros da
comunidade para reconhecer a violência em todas as suas diversas formas e
capacitá-los para que falem e denunciem situação de violência de forma
segura.
- Construir sistemas de assistência social e capacitar profissionais
da área social para atender, encaminhar e oferecer aconselhamento e
serviços terapêuticos para crianças e adolescentes que sofreram violência.
- Aperfeiçoar a coleta de dados desagregados sobre violência contra
crianças e adolescentes.
Mais informações sobre homicídios de
adolescentes no Brasil
Índice de Homicídios na Adolescência
(IHA) – O estudo apresenta uma análise estatística dos homicídios de
adolescentes de 12 a 18 anos nos 300 municípios brasileiros com mais de 100 mil
habitantes. O IHA é calculado para cada grupo de mil pessoas entre 12 e 18
anos. Se as condições que prevaleciam em 2014 não mudarem, entre 2015 e 2021,
um total de 43 mil adolescentes poderá ser morto nesses 300 municípios
analisados. Acesse: Índice de Homicídios na Adolescência
2014 (IHA).
Trajetórias Interrompidas – O estudo analisou
os homicídios de adolescentes, entre 12 e 18 anos, ocorridos em sete municípios
cearenses: Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Horizonte, Juazeiro do Norte, Maracanaú
e Sobral. Para isso, foram realizadas entrevistas com 224 familiares e grupos focais
com especialistas, que ajudaram a reconstruir as histórias desses adolescentes
até o dia de sua morte, tirando-os da invisibilidade dos números e das siglas
que os cercam. Acesse: Trajetórias Interrompidas.
Sobre o UNICEF
O
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) promove os direitos e o
bem-estar de cada criança em tudo o que faz. Com seus parceiros, trabalha em
190 países e territórios para transformar esse compromisso em ações concretas
que beneficiem todas as crianças, em qualquer parte do mundo, concentrando
especialmente seus esforços para chegar às crianças mais vulneráveis e
excluídas.
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