Laranjeiras começará
nesta semana os testes clínicos com 1,2 mil voluntários; os estudos
serão conduzidos por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe
O Instituto Butantan, unidade da Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo e um dos maiores centros de pesquisa biomédica do
mundo, iniciou ontem terça-feira (6 de setembro) os testes clínicos em humanos da
primeira vacina brasileira contra a dengue em Laranjeiras. O Estado de
Sergipe é o segundo da região Nordeste a receber o estudo.

Os ensaios
clínicos serão conduzidos pela Universidade Federal de Sergipe, sob a
responsabilidade do pesquisador Ricardo Queiroz Gurgel.
A vacinação dos
voluntários será realizada no Hospital Municipal
e Maternidade São José, em parceria com a prefeitura municipal de
Laranjeiras, com a Associação Hospitalar de Sergipe e com a Fundação de Apoio à
Pesquisa e Extensão de Sergipe (Fapese).
Os testes já estão
em andamento em Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO) na região Norte,
em mais três centros no Estado de São Paulo (Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da USP, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo), um centro de pesquisas de Fortaleza (CE), Campo
Grande (MS) e em Porto Alegre (RS). Ao todo serão 14 centros de pesquisa
credenciados pelo Butantan para a realização dos estudos (confira relação
completa abaixo).
Os testes
envolverão 17 mil voluntários em 13 cidades nas cinco regiões do Brasil. São
convidadas a participar do estudo pessoas saudáveis, que já tiveram ou
não dengue em algum momento da vida e que se enquadrem em três faixas
etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59 anos. Os participantes do
estudo são acompanhados pela equipe médica por um período de cinco anos para
verificar a eficácia da proteção oferecida pela vacina.

“Com os vírus
vivos, a resposta imunológica tende a ser mais forte, mas, como estão
enfraquecidos, eles não têm potencial para provocar a doença. A vacina deve
proteger contra os quatro sorotipos da dengue com uma única dose”,
explica o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil.
Nesta última etapa
da pesquisa, os estudos visam comprovar a eficácia da vacina. Do total de
voluntários, 2/3 receberão a vacina e 1/3 receberá placebo, uma substância com
as mesmas características da vacina, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. Nem
a equipe médica nem o participante saberão quais voluntários receberam a vacina
e quais receberam o placebo. O objetivo é descobrir, mais à frente, a partir de
exames coletados dos voluntários, se quem tomou a vacina ficou protegido e quem
tomou o placebo contraiu a doença.
Os dados
disponíveis até agora das duas primeiras fases indicam que a vacina é segura,
que induz o organismo a produzir anticorpos de maneira equilibrada contra os
quatro vírus da dengue e que é potencialmente eficaz.
“A dengue é
uma doença endêmica no Brasil e em mais de 100 países. A vacina brasileira
produzida pelo Butantan, um centro estadual de excelência reconhecido
internacionalmente, será certamente uma importante arma de prevenção,
protegendo nossa população contra a doença e suas complicações”, afirma o
secretário de Estado da Saúde de São Paulo, David Uip.
Histórico
Em 2008, o
Instituto Butantan firmou parceria de colaboração com o NIH, passando a
desenvolver, no Brasil, uma vacina similar a uma das estudadas pelo instituto
americano, composta pelos quatro tipos de vírus da dengue.
Um dos grandes
avanços do Butantan no desenvolvimento da vacina foi a formulação liofilizada
(em pó), que garante a estabilidade necessária para manter os vírus vivos em
temperaturas não tão frias, permitindo seu armazenamento em sistemas de
refrigeração comum, como geladeiras, além de aumentar o período de validade da
vacina (um ano).
Nas etapas
anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes
clínicos, realizada nos Estados Unidos pelo NIH, e 300 na segunda etapa,
realizada na cidade de São Paulo em parceria com a Faculdade de Medicina da USP
(através do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto
Adolfo Lutz.
Ter a vacina
desenvolvida e produzida por um produtor público nacional é uma vantagem
competitiva para o Brasil, pois garante a disponibilidade do produto,
permitindo a autossuficiência produtiva, além de garantir preços mais
acessíveis.
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