Por: Pedro Cardoso da Costa
O chamado jeitinho brasileiro tornou-se sinônimo de
expertise do nosso povo ao longo do tempo. Já foi muito enaltecido, cantado em
verso e prosa. É universal entre as camadas sociais. Seu significado é ser
contrário à forma correta de praticar algum ato.
Têm algumas condutas tanto mais reiteradas quanto
negadas. Quem quer passar no primeiro exame para tirar uma habilitação para
dirigir sabe muito bem do que se está falando. Isso vem de muito longe. Em
agosto de 1995 a revista Veja São Paulo trouxe na capa a
compra de uma carta por 200 reais. A reportagem apontava que a repórter não
sabia dirigir. Ela cometera faltas propositais que seriam suficientes para
reprovação de quatro candidatos, mas foi aprovada, além de o instrutor ter
feito praticamente tudo por ela para evitar mais erros. Assim funciona o Brasil
oficial. Quando se paga por fora, vale tudo, mas acontece; quando não, busca-se
pelo em ovo e a coisa não anda.
“Limpar” pontos da carteira de habilitação era um
negócio tão explícito que faixas tomavam conta de toda a cidade de São Paulo. A
lei Cidade Limpa ajudou a diminuir, mas vez outra aparece alguns anúncios. Cada
lugar tem o modo próprio dos seus golpes oficializados.
No desfile das escolas de samba no Anhembi é de
doer a omissão dos órgãos oficiais. Primeiro, se proíbe entrar com comida e
água. Lá dentro, um cachorro quente, apenas com pão, salsicha e alguns grãos de
milho custa 7,00 reais. Quando permitem entrar com uma garrafa d’água, que
custa 1,50 fora, os controladores da entrada retiram a tampinha “para evitar
que atirem na pista”. Lá dentro se consegue as garrafas lacradas com as mesmas
tampinhas ao custo de 5,00 reais.
Outro exemplo de golpe corriqueiro é a proibição de
tirar fotos com as máquinas próprias em festa de formatura. Nem mesmo contratar
um fotógrafo do seu gosto é permitido. É o verdadeiro golpe casado.
No caso dos desfiles, o espaço é público, jorra
dinheiro público para as escolas e o evento se torna uma mistura que ninguém
sabe onde termina o público nem onde começa o privado. Isso serve
para não identificar responsáveis com clareza quando precisar, como no caso da
boate Kiss, em Santa Maria/RS.
Fiscalizar talvez seja a função mais essencial da
administração pública. Nela, a omissão é a regra e a corrupção grassa país
afora. Os preços deveriam ser tabelados dentro dos sambódromos ou de quaisquer
eventos públicos para evitar os abusos, que começa com o preço dos ingressos.
Em São Paulo custou de 80 a 120 reais nas arquibancadas, mesmo com a derrama de
dinheiro público para as escolas.
Com relação às formaturas, cada pessoa poderia ser
livre para levar sua máquina ou seu fotógrafo. O argumento de que o espaço não
poderia comportar tanta gente não passa de desculpa, afinal, a maioria iria
apenas levar suas máquinas e “revelar” quando quisesse ou pudesse.
De novo, caberia uma fiscalização sobre o preço abusivo das fotos mais valiosas
do mundo.
Esse funcionamento “casado”, formando uma
verdadeira teia de aranha, com abuso nos preços, ocorre também nas casas de
shows, buffet, prestação de serviços de TV, internet e outros. Muitos são
verdadeiras cadeias particulares, mas todas deveriam ser fiscalizadas, além de
muitos emaranhados desses pertencerem ao próprio poder público. E o pior,
nesses eventos um questionamento é rechaçado com ameaças e não se tem a quem
recorrer. Como sempre, o cidadão fica apeado no meio deste misto de ganância
particular e negligência pública.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito
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