Niemeyer teve uma infecção respiratória e morreu
na noite de ontem (5), aos 104 anos, no Hospital Samaritano, em Botafogo, zona
sul da capital. Ele estava internado desde o dia 2 de novembro, vítima de
complicações renais e desidratação.
“Cheguei lá em 1958. Ninguém acreditava que
aquilo fosse ficar pronto, mas ficou. Essa foi a minha melhor experiência
profissional. Depois fomos ficando velhos e nos tornamos amigos. Ele [Niemeyer]
queria justiça para o mundo e trabalhava de manhã até a noite.” "Foi o
período em que eu mais aprendi profissionalmente. Minha formação de arquiteto
se deve a isso. Ajudou a construir minha carreira e minha formação",
completou Ítalo. O colega Jaime Zettel, que também fez parte do grupo dos 16,
ressaltou a eficiência de Niemeyer com Lúcio Costa.
"Esse período em Brasília foi inspirador. O Niemeyer e o Lúcio
chefiavam o grupo com maestria. Ninguém acreditava que o projeto ficaria
pronto, mas com eles à frente não tinha como não dar certo", disse Zettel.
Campofiorito também falou sobre o lado humano do carioca: "Ele era do tipo
que ajudava garoto de rua, amigo que ficou pobre, e sempre oferecia
oportunidades de trabalho para os companheiros. Várias vezes ele me ofereceu
[trabalho]". Importância para a arquitetura O presidente do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Sidnei Menezes, destacou a
importância do arquiteto para a categoria. "Ele foi essencial para a
criação do Conselho Nacional de Arquitetura e Urbanismo em 2010, no último dia
do governo Lula, em 30 de dezembro. Foi aprovado depois de 50 anos de
reivindicação da categoria. O Oscar escreveu cartas de próprio punho e as
enviou para vereadores e deputados, pedindo humildemente para que o conselho
fosse criado", contou.
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Oscar Niemeyer (à esq.) com o presidente Juscelino Kubitschek, em 1959 |
"Essas são as características que marcam e
vão ficar na memória de todos: a simplicidade e a humildade. São as
características que só cabem aos gênios. O Oscar era único, uma daquelas
pessoas geniais que vem de tempos em tempos", completou Menezes.
Quando perguntado se existe um substituto para
Oscar Niemeyer, Menezes disse: "Talvez no próximo século. Vamos
aguardar". Já o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do
Brasil (CAU-BR), Haroldo Pinheiro, disse que, muito preocupado com as questões
da sociedade e da política brasileira, Niemeyer colocava a arquitetura como uma
questão secundária. "Era uma coisa que ele fazia porque gostava, mas não
atribuía tanta importância ao próprio trabalho. Achava que mais importante é o
trabalho de quem luta por melhores condições de vida da sociedade",
afirmou. Segundo Pinheiro, Niemeyer era um homem muito "humilde e
simples", dono de um ânimo juvenil nas questões relacionadas ao seu
trabalho. "Ele olhava para seu último trabalho – que eu nem sei qual foi,
porque deixou tantos trabalhos iniciados – como se fosse um arquiteto
recém-formado que faria seu primeiro projeto", disse. Pinheiro esteve com
Niemeyer há poucos dias, no Rio, e constatou que “incansável”, ele continuava
trabalhando. "Era comum, no hospital, reclamar que precisava sair porque
seus projetos estavam atrasando. Ele estava entusiasmado fazendo alguns em
outros países, como a Argélia. Era muito requisitado, mas tanto fazia ser uma
residência, palácios ou museus. O entusiasmo era o mesmo", contou,
acrescentando que sempre saía "rejuvenescido" dos encontros com o
gênio da arquitetura brasileira. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do
Distrito Federal publicou uma nota na noite desta quarta-feira (6), lamentando
a morte do arquiteto. "O órgão lamenta profundamente essa perda
irreparável para a família, amigos e profissionais que estimavam a sua genialidade",
disse o presidente do conselho, Alberto de Faria, que afirmou que a Arquitetura
e o Urbanismo do Brasil perderam "o seu mais ilustre e inspirador
representante, que projetou o país no mundo." A Federação Nacional dos
Arquitetos e Urbanistas também manifestou profundo pesar. "Autor dos mais
emblemáticos projetos arquitetônicos do Brasil ao longo do século 20, Niemeyer
fez de seu traçado modernista um símbolo nacional ao planejar a construção de
uma nova capital federal, Brasília, durante o governo de Juscelino Kubitschek
(1956-1961)", disse o órgão em nota. A contribuição de sua obra para a
formação da identidade brasileira, segundo a federação, permitirá com que
Niemeyer seja sempre lembrado pelas gerações seguintes como um marco na
história da Arquitetura e Urbanismo. O presidente do Crea-RJ (Conselho Regional
de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro), Agostinho Guerreiro, declarou que
Niemeyer sempre será uma inesgotável fonte de inspiração. "Niemeyer sempre
foi um grande amigo dos engenheiros e incentivava a constante parceria desses
profissionais com os arquitetos. Desse carinho, nasceu o Prêmio Oscar Niemeyer
de Trabalhos Científicos e Tecnológicos, que está na segunda edição em
2012", afirmou Guerreiro. Este é um projeto voltado especialmente para a
juventude, com o objetivo de estimular a produção competente de projetos de
conclusão de curso por formandos dos níveis superior, graduação tecnológica,
técnico, mestrado e doutorado, das áreas de engenharia, agronomia, geologia,
geografia e neteorologia. Este prêmio era um motivo de orgulho para Niemeyer,
pois ele acreditava na importância do incentivo aos jovens." Ele ainda
destacou que o nome do prédio que abriga o Crea-RJ, no centro do Rio de
Janeiro, tem o nome do arquiteto, referência para os profissionais da entidade.
Oscar Niemeyer (à esq.) com o presidente Juscelino Kubitschek, em 1959
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