Como a sujeira é tamanha nos meandros políticos, a corrupção
é o primeiro pensamento que vem com este título, mas a sujeira aqui tratada é
mesmo a literal das cidades brasileiras. Trata-se de um problema crônico,
decorrente e ligado à cultura do povo brasileiro.
Nas grandes cidades existem bairros com um nível de
limpeza muito bom. Há outros que são verdadeiros focos de sujeira absoluta. Os
centros de todas as cidades são bastante sujos, tornando-se verdadeiros
banheiros a céu aberto dos moradores de rua, que não sofrem nenhum tipo de
punição, até pelas próprias condições em que vivem. Todos os locais de comércio
mais intenso são muito sujos. Em São Paulo, são mais degradados os Largos Treze
de Maio, de Pinheiros, a rua 25 de Março e adjacências; as proximidades dos
terminais de ônibus e entrada de estações de metrô. Nesses locais a prefeitura
destacar fiscais para orientarem imediatamente os pedestres que jogassem papéis
e ponta de cigarro no chão. Alguns dias após, a mesma fiscalização deveria
retornar aos locais para multar os sujões. Somente com medidas drásticas e bem
visíveis se poderia chegar a um resultado bem positivo.
Algumas pessoas poderiam ter um engajamento
maior em busca da solução. Pelo número de frequentadores diários nos
estabelecimentos, os comerciantes deveriam ter por hábito limpar a calçada e a
rua na extensão dos seus comércios permanentemente. Muitos empurram a sujeira
das calçadas para a rua. Calçadas de pedra portuguesa têm as frestas entupidas
por ponta de cigarro. Canteiros de jardins se tornam verdadeiros cinzeiros.
Aliás, bituca transformou-se a principal sujeira em todas as cidades. Poucos
têm conhecimento dos cinzeiros portáteis e nenhum fumante o utiliza.
Nos últimos anos, no rádio e na televisão, foram
veiculadas várias campanhas oficiais com o objetivo de conscientizar a população.
Elas trouxeram alguma melhoria, mas ainda estão longe de resolver o problema.
Alguns comerciantes, bem poucos, colocam lixeiras e bituqueiras na frente dos
estabelecimentos, mas quase não são utilizadas. As prefeituras poderiam fazer
concessão ou convênio com empresas privadas para reciclarem o lixo. Deveria ter
uma política nacional de reciclagem. Também existem iniciativas individuais que
trariam grandes resultados. Cada cidadão deveria separar o material orgânico do
inorgânico; poderia retirar cartazes dos postes de iluminação localizados na
frente do imóvel para desestimular esse tipo de propaganda.
Qualquer mudança sempre provoca resistência, em
maior ou menor grau. No hábito brasileiro de não conservar, de destruir e
maltratar as cidades, a relutância é bem forte. Pichações estão por toda parte.
Não existe um prédio público que não seja pichado, numa demonstração clara de
rendição, à molecagem, dos órgãos de estados, das prefeituras e da União.
Imprescindível o apoio dos comerciantes para as cidades
brasileiras alcançarem um nível de limpeza absoluto. Sem papéis voando pelas
calçadas. Os cidadãos precisam ser alertados para não jogarem ponta de cigarro,
papéis de bala nem borracha de chicletes nas ruas. Esse gesto só terá um fim
quando for tão recriminado quanto alguém fazer cocô nas vias públicas. Um dia
as cidades brasileiras se tonarão limpas, com base no que diz o
jornalista Janio de Freitas num texto que dá título a este: a limpeza virá,
virá, não porque seja assim sempre e fatalmente, mas porque a fossa alcançou o
nível de transbordamento. A cultura brasileira da sujeira ainda há de ser
vencida pela educação e civilidade.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito
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